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A REVOLTA DO BO​Ê​MIO

by Uzômi

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1.
Se eu fosse todo o meu contrário Bem mais interessante seria E a agonia da minha verdade Me corrói a conta gotas todo dia EU SOU TODO ERRADO EU SOU MONSTRO DE MIM QUE TEMPERA O ÓDIO PRA SUPIR O QUE FALTA Eu sou o maluco da rua Que te adestraram a evitar Eu só faço merda Eu nunca me acho Porque nunca me dispus a me procurar EU TODO ERRADO EU SOU O MONSTRO DE MIM QUE TEMPERA O ÓDIO PRA SUPRIR O QUE FALTA Ser um nada até o fim Pra ser algo pra porra nenhuma A ressaca sagrada do porre satânico Pra se santificar Se eu fosse o fim do resto de tudo Mas não sou ninguém Não sei de nada Se eu fosse ao menos e certo o meu fim Bem mais interessante eu seria Pra suprir meus vermes até o fim Com o que sobra da minha agonia O resto de tudo Não sou ninguém É certo o meu fim Ser um nada até o fim
2.
Vivendo a procura da morte Numa caça que não tinha fim Andei em círculos até morrer Não via que a morte é quem procurava por mim SÓ OS MORTOS DAS RUAS ENTENDEM O SABOR DO VENENO DA SARJETA SÓ NA SARJETA É QUE SE ENTENDE A DOR DE QUEM NÃO TEM NADA A PERDER No abrigo do assassino Num tranquilo esconderijo Mas atocaiado, vencido e esquartejado Esquecido não está SÓ OS MORTOS DAS RUAS SENTEM BEM O GOSTINHO DO VENENO DA SARJETA QUANDO SE PERDE A MORAL DE MANDAR NOS VERMES DO SEU PRÓPRIO CADÁVER SÓ OS VERMES DAS RUAS QUE SABEM DO VALOR DO CARALHO DA SARJETA SÓ NA SARJETA SE LIVRA DA DOR DE VIDAS ESTRAGADAS A TOA
3.
Cadafalso 01:10
Volta a cocheira o rebanho dos vencidos Humilhados não conseguem mais lutar Voltam pra cela escura dos esquecidos Rogam a deus pra em silêncio definhar E depois de tanta guerra Ao cair da noite de degrau em degrau Condenado ao abismo de demência Se matando por um pouco de morfina Porque é preciso estar atento e forte Porque é preciso confiar na morte E ao cair da noite De degrau em degrau Sobe o cadafalso e cai Sobe o cadafalso e cai Sobe o cadafalso e cai
4.
Você 02:20
Você Manhã assassina que planeja pro dia morrer Você Que sai dos valões apodrecidos pra vir me afogar Você Que ouve certo e fala errado demais Você Que não desiste de insistir no erro E que no fim das contas só quer decidir Quem é que eu vou ser Você Que não sabe o que é sofrer Não venha me ensinar a ser feliz Você Que acha que vai me ensinar Quem eu vou ser Eu que falo mais merda do que você suporta ouvir E olha que eu fui o mudo que contigo aprendeu a falar Você Que de tão escroto não para de me ouvir Você Que sabe que eu minto mas ouve porque é o que quer que eu fale Você Que eu vi de braços dados com o diabo e não me chamou Você Que eu tanto odeio Porque você é o desgraçado que eu sou Fingindo ser você Fugindo de quem eu vou ser
5.
Nós sempre nos encontramos aqui nesse lugar desgraçado Merecemos ser o que somos nesse lugar desgraçado Porque todo castigo pra gente é pouco Somos os bastardos Somos a depravação Somos os errados Somos quem não queremos não ser Sua revolta não me interessa A menos que me mantenha enganado Porque nós não nos merecemos nesse lugar desgraçado Eu que mereço estar aqui nesse lugar desgraçado Eu que paguei com a minha alma e não consigo fugir Eu sei que mereço estar com você nesse lugar desgraçado Aonde sempre me acho quando quero me perder Enterrei minha esperança na sola do seu sapato Encontrei minha saída num mendigo desgraçado Me deixa morrer em paz Me deixa sofrer em paz Me deixa na minha cama Me deixa morrer em paz Banheiro sujo, cerveja quente Vamos todos pro inferno Olho por olho, dente por dente Nesse lugar desgraçado
6.
Por quem meus bolsos esvaziam? Por quem não choro por vergonha? No arrependimento da segunda feira Que não dura até o fim de semana? Por que sofro com o que gosto Se mato para viver? Nas sinucas falsas Nos gritos não ouvidos Na surdez da multidão Por que pra mim não digo não? Pelo álcool, pela gana Pelas putas que não dizem não. Por quem mata os pais? Por quem satisfaz Se no fim da festa só nos resta Corpos vazios? Pelas almas tortas Que renegam a razão Pelo cheiro das covas que me esperam ansiosas Pra devorar o meu corpo Pra dissolver minha vida À assim firma teu chão por quem vivo torto Nas ruas imundas, nos becos escuros Na comida que me devora Antes do diabo Me esmagar com a mão
7.
Se meu castigo foi a boêmia É porque não fui tão mau E o que fiz de bom Deixei muito a desejar Seja um louco novato Ou um antigo ateu Isso nada quer dizer Nada disso importa Nada como o contorno da cadeira que espera Só as baratas do banheiro do bar sabem da minha vida Quem falará merda ao trono Como o rei bufão para as tropas desleais? Aquele que mata em silêncio Aquele que nos guia Rumo ao grande abismo Da incoerência nua e crua Avante homens de fé Marchem para a morte Morram pra viver Enquanto bebo o meu vinho E vomito a toa Nas suas carcaças
8.
Miseráveis 01:54
Sou o sacerdote ateu O da grande prostituta Faço o que faço porque tem que ser feito No entanto fiz o que fiz E quando vi estava cego NUNCA FUI TÃO CEGO NUNCA FUI TÃO POBRE O que falo tem gosto de veneno e é por isso que eu me calo Porque não quero morrer Com as besteiras que falo EU NUNCA FUI TÃO CEGO NUNCA FUI TÃO POBRE NUNCA FUI AQUELE QUE EU PRÉ SONHAVA SER Se só se ouve no silêncio Prefere calado sofrer Se eu só te cuspo o meu veneno Que não te mata e me faz morrer NUNCA FUI TÃO CEGO NUNCA FUI TÃO POBRE NUNCA FUI AQUELE QUE EU PRÉ JULGAVA SER
9.
Que razão o certo vai ter Pra encarar esse mundo escroto? Aonde a vida acontece Quando todos já estão mortos O seu grito sempre errado Todos obedecerão Seus sussurrros vale menos Que a pureza dos pagãos Escravo de tua boca suja Não reconhece mais a própria a vida Esse vice e versa que só corrói Sua voz será ouvida Mas ninguém te entenderá Sua lei que só conduz Aos despurados corpos nus
10.
Sem saída 01:49
Qual é o farrapo que te guia? Quem é a besta que te segue? Que quando quer te encontrar É só seguir o rastro de sangue no chão QUE SANGUE É ESSE SOB TEUS PÉS? QUAL CHÃO QUE TE SUSTENTARÁ? Eu sou um fruto de um corte viés Eu sou o sangue derramado no chão Se no recaminho tu me achas É nas esquinas que te perco Preso em seu território de feras Amordaçado em carne crua QUE SANGUE É ESSE SOB TEUS PÉS? QUAL CHÃO QUE TE SUSTENTARÁ? Eu sou o fruto de um corte viés Eu sou um sangue derramado no chão É nesse mesmo lugar Aonde sempre nos encontramos Aonde eu nunca quis estar Aonde nos encontramos Aonde sempre nos perdemos Pra nos encontrar QUE SANGUE É ESSE SOB TEUS PÉS? QUAL CHÃO QUE TE SUSTENTARÁ? Eu sou o fruto do corte viés Eu sou o sangue derramado no chão
11.
Doses letais 02:35
A vida é uma mentira E nem precisa viver muito Pra saber a verdade Que a vida é uma merda DOSES LETAIS DE ÓPIO PRA QUE EU SOBREVIVA À DOR DOSES LETAIS DE ÓPIO PRA QUE EU SOBREVIVA À DOR DE MORRER E pra dor que não tem cura É melhor viver dopado E no fim de tudo A ignorância é a melhor morfina DOSES LETAIS DE ÓPIO PRA QUE EU SOBREVIVA À DOR DOSES LETAIS DE ÓPIO PRA QUE EU SOBREVIVA À DOR DE MORRER A vida em excesso em mata Bright mellow in the get it funny house Quando mais se vive mais profundo se enterra Quanto mais mais menos se será É pra isso que eu vivo Pra acabar comigo A cada dose pra adoçar a cirrose É pra isso que vivo Pra acabar comigo Pra acabar com a raça de gente como eu Doses letais de ópio pra que eu sobreviva à dor
12.
13.
Última dose 03:21
Será que rirei por último Quando o resultado da minha diversão Nada mais será Do que meu sangue espirrado no chão E quanto custa meu sangue podre Que sujou o teu caminho? E quanto me custará pra esquecer Quem sou sem dor? Uma dose de veneno Que me mata fácil Uma dose de veneno Que me satisfaz Uma dose de veneno Que se acha nas esquinas A última dose de veneno Como um tiro de misericórdia

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released February 26, 2017

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Uzômi Rio De Janeiro, Brazil

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